Seguidores

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

TÉCNICAS DE INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

                    MATERIAIS PARA A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGOGICA

Partindo do princípio de que o homem é múltiplo em suas formas de expressão e de interpretação da realidade, podemos falar de um homo sapiens, de um homo faber e também de um homo ludens, pois o brincar, em todas as suas formas, é tão antigo quanto a própria humanidade.

Alícia Fernández lembra que "aprender é quase tão lindo como brincar" e que aprender e brincar ocupam o mesmo espaço transicional no qual razão e emoção, objetividade e subjetividade se encontram. Para jogar o homem precisa exercitar uma lógica e uma ética, pois não basta apenas jogar bem para ganhar, mas é preciso ganhar com dignidade.
Por isso, o jogo é um material por excelência da intervenção psicopedagógica, na medida em que possibilita o exercício destas lógicas racionais e afetivas necessárias para a ressignificação dos aspectos patológicos relacionados com a aprendizagem humana. Existe no jogo, contudo, algo mais importante do que a simples diversão e interação. Ele revela uma lógica diferente da racional . O jogo revela uma lógica da subjetividade, tão necessária para a estruturação da personalidade humana, quanto a lógica formal das estruturas cognitivas.
O jogo carrega em si um significado muito abrangente. Ele tem uma carga psicológica, porque é revelador da personalidade do jogador (a pessoa vai se conhecendo enquanto joga). Ele tem também uma carga antropológica porque faz parte da criação cultural de um povo (resgate e identificação com a cultura).
O jogo é construtivo porque ele pressupõe uma ação do indivíduo sobre a realidade. É uma ação carregada de simbolismo, que dá sentido à própria ação, reforça a motivação e possibilita a criação de novas ações.

O psicopedagogo utiliza o jogo diferentemente dos demais profissionais, porque o vê como uma técnica que permite a articulação de aspectos objetivos e subjetivos, necessários para que a aprendizagem aconteça sem problemas.
Na intervenção psicopedagógica o jogo pode ser utilizado em suas três formas, de acordo com a teoria de Piaget: 




JOGOS DE EXERCÍCIO: 0 A 2 anos - período sensório-motor; JOGOS SIMBÓLICOS: 2 A 7 anos - período pré-operatório; JOGOS DE REGRAS: a partir do período operatório concreto;
Estas delimitações etárias estão, logicamente, sujeitas à alterações em função das diferenças individuais.
Jogos de Exercício

A principal característica da ação exercida pela criança no período sensório motor é a satisfação de suas necessidades. Pouco a pouco, porém,
ela vai ampliando seus esquemas, adquirindo cada vez mais a possibilidade de garantir prazer por intermédio de suas ações. Passa a agir para conseguir prazer. O prazer é que traz significado para a ação. Piaget observou as condutas das crianças pequenas e delas depreendeu que havia um objetivo na repetição incessante das mesmas ações: divertir e servir como instrumento de realização de um prazer em fazer funcionar, exercitar estruturas já aprendidas. Este tipo de brincadeira dá à criança um sentimento de eficácia e poder.

O jogo de exercício é definido por ele com característico desta fase sensório-motora. Entretanto,o ser humano não deixa de jogá-lo só porque cresce e se torna adulto. A cada nova aprendizagem ele volta a utilizar jogos de exercícios, necessários à formação de esquemas de ação úteis ao seu desempenho, pois o jogo de exercício não objetiva a aprendizagem em si, mas a formação de esquemas de ação, de condutas, de automatismo. Por isso, jogá-lo só é necessário para este fim, pois fica cansativa e enfadonha a repetição de ações já interiorizadas.

Jogos Simbólicos
Este tipo de jogo predomina dos 2 aos 7 anos de idade, ou seja, no período pré-operatório de pensamento.
No jogo simbólico a criança já é capaz de encontrar o mesmo prazer que tinha anteriormente lidando agora com símbolos. É a época do "faz de conta", da representação, do teatro, das histórias, nas quais uma coisa simboliza outra: um pedaço de pau "vira" cavalo; vestir uma capa transforma em super-homem; representar o papel de mãe ao brincar de bonecas, dentre outros exemplos.

Os jogos simbólicos têm as seguintes características: liberdade total de regras (a não ser aquelas criadas pela própria criança); desenvolvimento da imaginação e da fantasia; ausência de objetivo ( brincar pelo prazer de brincar); ausência de uma lógica da realidade; assimilação da realidade ao "eu" (a criança adapta a realidade a seus desejos. EX: se presencia uma briga entre os pais, vai brincar de casinha e resolve o conflito por meio dos bonecos.

A criança é capaz deste jogo porque já estruturou sua função simbólica, ou seja, já produz imagens mentais, já domina a linguagem falada, que lhe possibilita usar símbolos para substituir os objetos. Quando joga jogos simbólicos ela tem a possibilidade de vivenciar aspectos da realidade muitas vezes difíceis de elaborar : a vinda de um irmãozinho, a perda de um genitor, a mudança da escola...Pode lidar com as situações desejantes ( ser um super-homem), penosas ( separação dos pais ), com situações do passado, enfrentar problemas do presente e antecipar conseqüências de ações no futuro.

Ela pode fazer tudo isso, sem riscos, porque nada é real, tudo é fictício. O adulto que observa e interage com a criança no jogo simbólico pode
perceber como ela está elaborando sua visão de mundo, como lida com seus problemas, quais são seus sonhos ou suas preocupações. Por isso, o jogo simbólico é tão importante na intervenção psicopedagógica dirigida para as dificuldades de aprendizagem.
Como o período pré-operatório se estende dos 2 aos 7 anos, tendo portanto, uma duração mais longa, verificamos que o jogo simbólico sofre modificações á proporção que a criança vai progredindo em seu desenvolvimento, rumo à intuição e à operação.

Evolução dos Jogos Simbólicos Inicialmente a criança pratica ela mesma a ação: faz de conta que dorme, faz de conta que come etc...não lida com objetos como se estes tivessem vida : Ex.: não usa uma vassoura como cavalo; Em seguida, a criança fará dormir, comer, ir e vir, outros objetos que não ela própria, transformando simbolicamente um objeto em outro. EX.: uma caixa vazia é um carro; por volta dos 4 anos a criança vai se aproximando, cada vez mais, de uma imitação da realidade. Ex.: todas as casas desenhadas têm que ter janelas e telhados;
À proporção que vai entrando no sub-período intuitivo do período operatório concreto, os jogos tendem a seguir cada vez mais uma tendência imitativa na qual a busca de coerência com a realidade, a articulação entre os diversos conjuntos de objetos já se faz sentir. Ex.: jamais brincar com uma boneca muito grande numa caminha pequena.

Jogo de regras
Os jogos de regras são o coroamento da experimentação da criança com as transformações a que ela chegou quando atingiu a reversibilidade de pensamento operatório concreto. Neles existe o prazer do exercício, o lúdico do simbolismo , a alegria do domínio de categorias espaciais e temporais, os limites que as regras determinam, a socialização de condutas que caracteriza a vida adulta.

Os jogos de regras são, segundo Piaget, "a atividade lúdica do ser socializado".
Um jogo de regras pressupõe uma situação problema, uma competição por sua resolução e uma premiação advinda desta resolução. As regras orientam as ações dos competidores, estabelecem seus limites de ação, dispõem sobre as penalidades e recompensas. Elas são as "leis" do jogo 
.
Ao jogar jogos de regras as crianças assimilam a necessidade de cumprimento das leis da sociedade e das leis morais da vida.
Para ser enquadrado como um jogo de regras são necessárias as seguintes características:

que haja um objetivo claro a ser alcançado; que existam regras dispondo sobre este objetivo; que existam intenções opostas dos competidores; que haja a possibilidade de cada competidor levantar estratégias de ação;
Os jogos de regras são necessários para que as convenções sociais e os valores morais de uma cultura sejam transmitidos a seus membros.
As estratégias de ação, a tomada de decisão, a análise dos erros, lidar com perdas e ganhos, replanejar as jogadas em função dos movimentos do adversário, tudo isso é fundamental para o desenvolvimento do raciocínio, das estruturas cognitivas dos sujeitos. O jogo provoca um conflito interno, a necessidade de buscar uma saída, e desse conflito o pensamento sai enriquecido, reestruturado e apto a lidar com novas transformações.

Materiais Lúdicos
Partindo-se do princípio de que o jogo é inerente ao ser humano, qualquer material pode ser usado para esta função. Até uma parte do corpo, como fazem os bebês, que brincam com suas próprias mãos e pés.
Contudo, na evolução histórica da humanidade, houve a criação de instrumentos que possibilitam aos homens novas maneiras de interação com o meio. Assim surgiram os brinquedos e os jogo estruturados,ampliando as formas de brincar.

Em um consultório psicopedagógico é importante que existam jogos à disposição da criança para que ela possa usá-los em suas brincadeiras, permitindo ao terapeuta a observação de sua modalidade de brincar, de maneira a transcender para a compreensão de sua modalidade de aprendizagem. Assim ele poderá encaminhar o trabalho para a ressignificação dos vínculos patológicos com a realidade e o exercício pleno da autoria de pensamento de seu cliente.

Saber o que comprar, que tipo de jogo usar para cada caso, é um dos desafios ao profissional da aprendizagem. Não há como comprar todos os jogos disponíveis no mercado, nem necessidade disso. Importante que o psicopedagogo possua alguns jogos de exercícios, materiais simbólicos e jogos de regras, para atender à diversidade de desenvolvimento humano. Que tais materiais sejam de boa qualidade e resistentes às brincadeiras, pois nada é mais frustrante do que a criança estar brincando e o brinquedo quebrar ou se danificar enquanto ela o utiliza.
Para auxiliar na escolha destes jogos, sugerimos a oficina que é oferecida pelo nosso site www.psicopedagogavaleria.com.br/cursos.htm, BRINQUEDOTECA, que trata dos jogos que podem ser utilizados com as crianças desde a mais tenra idade, para ajudar na promoção de seu desenvolvimento PSICO SOCIO AFETIVO EMOCIONAL.

TÉCNICAS DE INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

Várias técnicas podem ser utilizadas pelo psicopedagogo quando está intervindo junto às dificuldades de aprendizagem. São destacadas aqui algumas que têm seu uso mais difundido, por sua amplitude: o psicodrama, a caixa de areia, estimulação cognitiva, as técnicas expressivas plásticas, que utilizam atividades artísticas em suas diversas modalidades e a informática.

O Psicodrama
O médico romeno, Moreno, foi o criador do psicodrama. Ele foi um estudioso do comportamento grupal , dando ênfase às relações estabelecidas entre os componentes dos grupos por meio do método role-playing ou jogo de papéis. O psicodrama foi uma inovação nas técnicas terapêuticas do século passado, pois introduziu recursos da representação teatral, com a vivência de personagens nos processos de tratamentos psicológicos, por meio da catarse (descarga emocional). O termo "psicoterapia de grupo" passou a ser utilizado após as experiências de Moreno com a expressão de sentimentos e emoções em um clima de espontaneidade associado a uma situação de representação.

Não se trata de representar como em um teatro,repetindo indefinidamente em cada apresentação as mesmas falas, mas de viver um papel que é único na vida de cada pessoa e que pode ser o catalizador de interpretações que libertem o sujeito de seus problemas. O método psicodramático aborda os conflitos que surgem nas relações interpessoais e é baseado em um setting grupal que conta com a presença do terapeuta, que assume o papel de diretor de cena e os pacientes que atuam tanto como protagonistas como público. A relação entre realidade e fantasia é bastante trabalhada nesta técnica, que usa os papéis para a expressão das diversas possibilidades identificatórias que o ser humano possui e as múltiplas dimensões psicológicas do eu em relação ao mundo interno e externo de cada um.

Para utilizar o psicodrama como técnica terapêutica o profissional deve possuir formação teórica e metodológica adquirida em cursos específicos. Existem atualmente várias associações que congregam os profissionais que atuam com psicodrama. Elas reúnem as informações a respeito de cursos, bibliografia, editam material a respeito e divulgam a técnica junto ao público. Reserve um tempo para visitar estes endereços: http://www.febrap.org.br/ da Federação Brasileira de Psicodrama e http://www.abps.com.br/ da Associação Brasileira de Psicodrama e Sociodrama.

Alícia Fernández levou o psicodrama para a psicopedagogia, utilizando-o como técnica de intervenção junto a crianças e adultos. Segundo esta autora montar "cenas", dramatizar os fatos que ocorrem ou ocorreram no passado em situações vividas pelas pessoas auxilia na ressignificação dos motivos ou motivações das dificuldades de aprendizagem.
Em sua opinião as crianças são as mais beneficiadas com esta técnica porque ela lhes permite a expressão de pensamentos e vivências com mais facilidade
do que o desenho e a escrita, que exigem competências que elas, muitas vezes, não possuem.
Os profissionais que não possuem formação específica em psicodrama, nem por isso precisam deixar de usar técnicas dramáticas em suas intervenções. A simples mudança de papéis "trocando de lugar" com o terapeuta já é uma grande experiência para ambos, pois permite ao cliente a vivência da situação terapêutica sob outro ângulo e ao psicopedagogo a experimentação de suas hipóteses de trabalho, alterando o comportamento usual da criança.
"O psicodrama ajuda a criança que nos consulta a habitar um lugar, estabelecendo "residências provisórias", quer dizer, cenas. Se até o simples desenhar sobre um papel é estruturante do sujeito, quanto mais o psicodramatizar, que é um certo desenhar o jogado e jogar o desenhado.
A montagem de uma cena, o decidir que esse almofadão vai ser uma "porta" e colocá-lo em uma lugar e esse outro será uma "cama" e colocá-lo em outro lugar, também facilita a ressignificação... Tratando-se de uma cena da vida real, a maioria das vezes é difícil para a criança, com problemas de aprendizagem, relatá-la.Não somente pelo empobrecimento da linguagem, mas também porque não pode estabelecer a distância necessária entre a cena e ela mesma como relatora da cena."
O que se pode recomendar é que estas situações de dramatização não sejam planejadas, mas que possam surgir durante o tratamento a partir das demandas do cliente. É preciso que o terapeuta tenha a sensibilidade para identificar o melhor momento para dar início a uma cena, a uma representação de faz de conta, usando para isso os materiais que tem à sua disposição em seu consultório. As técnicas dramáticas ou psicodramáticas não exigem materiais estruturados, pois são baseadas em improvisações.

Com crianças, além das cenas, o psicopedagogo também pode utilizar músicas dramatizadas, brinquedos cantados e mímicas, que são altamente vitalizadoras e facilitam a expressão daquelas que têm mais dificuldades na área da linguagem
Livros de histórias que abordam conteúdos de contos de fadas, mitos, relatos folclóricos e fábulas são outro material de grande aplicação na intervenção psicopedagógica porque permitem que aspectos projetivos surjam na sessão, pois as crianças se identificam com os personagens e podem nutrir por eles sentimentos de afeição ou medo. Como existe muita oferta no mercado, o psicopedagogo deve ter critério em sua escolha atentando para os seguintes aspectos:

Livros sem texto
Que permitem a criação e a autoria de pensamento.
Livros cujo texto sofreu alguma mudança
Como por exemplo, a história dos três porquinhos relatada pelo lobo, que permite a diversificação de pontos de vista, pela criança.
Livros cujo texto permitem à criança a percepção de mudanças
Como "Vice-Versa ao Contrário", da editora Cia das Letrinhas, que apresenta histórias clássicas reescritas e adaptadas à novas situações.
Livros que trabalham conteúdos latentes presentes no universo infantil
Como "Macaquinho", de Ronaldo simões Coelho, editora Lê ou "O Equilibrista", de Fernanda Lopes de Almeida, editora Ática.
Livros que apresentam situações vivenciadas pela criança e que podem servir para o terapeuta abrir espaços de discussão a seu respeito
Como aqueles da coleção "Coisas da Vida", da Editora Artes Médicas, ou o "Primeiro Livro da Criança sobre Psicoterapia", de Marc Nemiroff, da mesma editora.

Livros que possuem interatividade com a criança
Como aqueles que apresentam o personagem "Ninoca", da editora Ática, ou aqueles que são verdadeiras charadas, nos quais não há ponto de início para a leitura e o leitor transita por suas páginas como deseja. Estes últimos são muito apreciados pelos pré-adolescentes.
Quando a criança apresenta dificuldades de expressão verbal ou de "entrar" neste mundo imaginário da representação corporal, o psicopedagogo pode usar bonecos ou fantoches para as cenas. O uso do boneco como fonte de representação é utilizado desde épocas muito remotas. Ele substitui o real.
Os fantoches são bonecos animados pela manipulação e podem ser de vários tipos: fantoches de dedo, marionetes de madeira, fantoches de vara, dentre outros. Não importa como é feita a manipulação, mas sim o fato de que o fantoche é um boneco que tem uma concretude presentificada pelo movimento que a manipulação lhe dá. Para conhecer uma abordagem de intervenção psicopedagógica com fantoches, leia técnicas dramáticas ou psicodramáticas são muito indicadas quando a hipótese de trabalho está relacionada com a estrutura desejante, possibilitando situações que permitem à criança reviver aspectos de sua realidade que possam ter sido traumáticos ou reavivar situações inconscientes relacionadas com situações de aprendizagem, deixando claros para o psicopedagogo os vínculos estabelecidos com os objetos.
As chamadas 'Bonecas Waldorf , cuja confecção é baseada na pedagogia de mesmo nome, são totalmente diferenciadas pelo fato de respeitarem e estimularem a imaginação da criança. Longe de reproduzir 'fielmente' as particularidades da figura humana, deixam para a fantasia infantil a atividade criadora, simplesmente sugerindo possibilidades, por exemplo, de fisionomia.
As bonecas são confeccionadas de forma artesanal, com a utilização (inclusive no enchimento) de materiais inteiramente naturais: malha e tecidos de puro algodão, feltro de lã e fios de lã pura de carneiro. Este critério visa familiarizar a criança com o mundo natural por meio de seus materiais, nos quais ela aprende a reconhecer cor, textura, forma, peso, etc. Além disso, o manuseio da boneca é agradável e aconchegante, motivando uma ligação estreita e carinhosa com ela.
Como cada boneca é feita manualmente e seu rosto é pintado à mão (com um mínimo de traços), cada uma adquire um aspecto individual e único. Os modelos e tamanhos procuram atender à necessidade das crianças em cada faixa etária, adequando-se, em complexidade, às diversas fases do desenvolvimento infantil.
Por intermédio da boneca a criança pode aprender a conhecer a si própria num processo de 'espelhamento', a exercitar os relacionamentos sociais, a cuidar do próximo, etc. A boneca (ou boneco) também pode exercer o importante papel de companheiro, de confidente. Por este motivo, é uma poderosa ferramenta para os educadores. Com este foco, sua confecção deve respeitar os anseios interiores da criança e ter qualidade para poder acompanhá-la por longos períodos.

A Caixa de Areia
O uso da caixa de areia com finalidades terapêuticas foi iniciado na Inglaterra por Margareth Lowenfeld, psiquiatra freudiana que recebeu forte influência de Jung, e, em 1935, publicou um livro a respeito.
A terapia na "caixa de areia" é um procedimento não verbal criado por Dora Kalff, em Zurique e levado até a América por Estelle Weinrib. De acordo com esta técnica os sujeitos criam cenas tridimensionais em uma caixa de tamanho específico usando areia , água e várias miniaturas de elementos de seu contexto sócio-cultural.
A caixa deve ter a forma retangular, medir 50cm por 75cm e 5 cm de altura e ter o fundo pintado de azul. Pode ser de madeira ou papelão. As miniaturas podem ser de qualquer material: plástico, chumbo, madeira, biscuit, etc... e incluírem elementos do universo pessoal: elementos da natureza, objetos, veículos, animais, vegetais , etc. A pessoa, com esse material, cria um cenário e coloca os personagens em cena. O terapeuta não interpreta a cena até que esteja pronta, concluída.
O princípio que norteia o uso da caixa de areia é que existe, no inconsciente ,uma tendência para que a psiquê se cure sozinha, desde que haja condições
para isso. Este princípio foi enunciado por Jung. Por meio das produções na caixa de areia a mente se amplia e os conteúdos latentes se tornam manifestos para o próprio cliente. As cenas representam o mundo interior por intermédio de elementos do mundo exterior. Muitas cenas reproduzem conteúdos oníricos, atingindo um nível bem profundo do inconsciente.
Dora Kalff iniciou sua prática com crianças, com uma abordagem não verbal, sem interferir em seu processo de trabalho. Ela simplesmente observava o que acontecia na sessão e percebeu que havia uma melhora significativa nos quadros de seus clientes apesar de não haver interferido. Passando a usar o mesmo método com adultos, descobriu que havia um processo semelhante ao das crianças.
A psicopedagoga Beatriz Scoz tem utilizado a caixa de areia com o objetivo de permitir análises sobre as modalidades de aprendizagem em cursos de formação de psicopedagogos. Ela incorporou à técnica original seu uso em pequenos grupos e o registro fotográfico do processo de trabalho até sua finalização. Suas considerações sobre a aplicação da caixa de areia no tratamento psicopedagógico foram publicadas em:
"Por Uma Educação Com Alma: a objetividade e a subjetividade nos processos de ensino/aprendizagem". Editora Vozes, 2000.
Em 2002 a psicanalista Ruth Ammann esteve no Brasil e deu uma entrevista à Revista Bem Viver Psicologia. Leia a matéria que está em anexo.
Para conhecer um pouco mais sobre esta técnica e sua aplicação no âmbito da psicopedagogia clínica, leia o artigo em anexo, "A Caixa Areia e as Miniaturas".
Leia também o livro:

Leitura
"Imagens do Self: o processo terapêutico na caixa de areia", da Editora Summus, 1993.

Estimulação Cognitiva
Quando a problemática que afeta a criança está relacionada a um atraso no desenvolvimento cognitivo que pode ser menos ou mais severo, o psicopedagogo deve orientar seu trabalho para realizar atividades de estimulação da inteligência.
Com este objetivo pode utilizar a técnica de mediação da aprendizagem criada por Reuven Feuerstein, psicólogo romeno de etnia judaica que criou o PEI- Programa de Enriquecimento Instrumental - no contexto de sua Teoria da Modificabilidade Cognitiva Estrutural. Para este autor, o ser humano é naturalmente um mediador de conhecimentos e realiza esta função inconscientemente. Porém, em sua opinião, este processo ganha mais vigor e consegue ser mais eficaz quando o sujeito passa a realizá-lo conscientemente.
Para aplicar o Programa que criou e cujo objetivo é o desenvolvimento do potencial de aprendizagem contido em todo ser humano, Feuerstein estipulou critérios de mediação que qualquer sujeito pode utilizar para ter sucesso na transmissão de conhecimentos.
O PEI é um programa que exige uma formação específica para sua aplicação e tem seus direitos autorais protegidos. A teoria da mediação da aprendizagem - EAM - como toda proposição teórica, não pode ter seu uso restringido por tais mecanismos jurídicos, pois é de domínio público. Sendo assim, é possível seu uso independente do Programa, mas não o contrário.
Quando uma criança passa por um processo intencional e sistemático de mediação da aprendizagem ela desenvolve metacognição e tem seu potencial ampliado, desenvolvendo cada vez mais sua cognição.

Outra técnica que pode ser utilizada para estimulação cognitiva de crianças é a ginástica cerebral ou Brain Gym, baseada em princípios de educação cinestésica utilizando os dois lados do cérebro.
A palavra educação deriva do latim "educare", que significa "trazer para fora". Cinestesia deriva da raíz grega "Kinesis", que significa "movimento". Educação cinestésica é um sistema criado para dotar pessoas de qualquer idade com o potencial externalizado daquilo que está encerrado dentro de seu próprio corpo.
A ginástica cerebral é baseada na integração cerebral por meio de movimentos que remodelam partes do cérebro que ficam inativas. As modificações no aprendizado e as transformações no comportamento são, muitas vezes, imediatas e profundas. Procure saber como funciona esta técnica, lendo o livro:

Leitura
"Ginástica Cerebral", de Paul Denninson, editora século XXI, 1996.
Exercício: Movimentos Cruzados
Faça o CROSS CRAWL (engatinhar) e o SKIP-A-CROSS (salto cruzado). Com uma música de fundo, coordene os movimentos de forma que o braço e a perna oposta mexam ao mesmo tempo. Faça os movimentos para frente, para os lados, e para trás, além de mover os olhos em todas as direções. Leve sua mão ao joelho oposto, cruzando a linha divisória. Quando os seus hemisférios cerebrais trabalham juntos desta forma, sua mente fica totalmente aberta para aprender novas informações.
Exercício: Bicicletas
Faça o CROSS CRAWL SIT-UPS deitado numa superfície cômoda(colchonete ou cama). Simule estar andando de bicicleta, enquanto toque o seu cotovelo no joelho da perna oposta.Sua mente e corpo vão ficar bastante alertas!
Exercício: Botões Cerebrais
Faça os BOTÕES CEREBRAIS antes de ler ou usar a visão. Enquanto segure o umbigo, esfregue firme logo abaixo da clavícula, para a direita e para a esquerda do esterno. Pinte um oito deitado no teto com a ponta do nariz funcionando como um pincel. A leitura nunca será cansativa e seus olhos vão deslizar pelos textos quando for ler.
Exercício: Botões Terra
Faça os BOTÕES TERRA para aumentar sua capacidade de calcular e lidar com números. Mantenha dois dedos abaixo do lábio inferior, e descanse a outra mão na extremidade superior do osso púbico. respire, elevando a energia para o centro do corpo.
A antroposofia é uma corrente filosófica criada por Rudolf Steiner, em Viena, no início do século XX. Parte de uma visão integral do homem e foi capaz de gerar desdobramentos na medicina, na agricultura e na educação, esta última com a Pedagogia Valdorf. Esta teoria sugere que a inteligência pode ser desenvolvida com atividades tais como: estudo de biografias de personalidades famosas; análise de fábulas, lendas e mitologias; poesias e história da arte; apresentações teatrais.
Para entender melhor a proposta antroposófica direcionada para o tratamento das dificuldades de aprendizagem, leia o livro abaixo indicado, que traz uma série de sugestões de atividades e exercícios para distintos problemas, como a dislexia, a discalculia , a desatenção, dentre outros.
Leitura
"Problemas de aprendizagem", de Lucinda Dias, Editora editora Antroposófica, 1995.
Técnicas Expressivas Plásticas
As técnicas expressivas plásticas são aquelas que utilizam a livre criação, com materiais apropriados, como lápis coloridos, aquarelas, tintas, argila, dobraduras, recorte e colagens, etc.
Este recurso permite ao psicopedagogo o trabalho com conteúdos objetivos e subjetivos, matéria prima da intervenção, além de propiciar a autoria de pensamento, objetivo principal da atuação psicopedagógica.
Muitos psicopedagogos possuem formação em arte-terapia e podem fazer uso desta técnica com muita propriedade. Outros , mesmo sem tal formação específica, utilizam os recursos plásticos com bons resultados, atentando para os seguintes aspectos, evidenciados por Sara Paín: a arte possibilita uma relação positiva com a aprendizagem; a arte possibilita o trabalho com aspectos figurativos e operativos do pensamento, integrando-os; a arte permite que o sujeito estabeleça relações com o real, por meio dos materiais utilizados, e com o imaginário, por meio de suas criações; a arte é expressão simbólica e remete o sujeito à sua cultura, dando significado à sua existência; a arte possibilita o trabalho com as dificuldades de aprendizagem na medida em que articula mecanismos presentes nos níveis afetivos e cognitivos. Cristina Dias Alessandrini é a psicopedagoga brasileira que tem pesquisado a aplicação doo recursos artísticos na intervenção psicopedagógica. Ela criou um método que denomina Oficina Criativa, na qual usa a arte em seu trabalho. Além dela, muitos outros terapeutas da aprendizagem têm descrito suas experiências com estes materiais. Há livros e jogos que podem também integrar esta abordagem. Eles provocam o desenvolvimento do senso estético, a percepção de semelhanças e diferenças, a análise e síntese tão importantes para o desenvolvimento de habilidades de leitura/escrita e a percepção de transformações que permitem o trabalho com as estruturas operatórias de pensamento. Coleções como a editada pela Cia das Letrinhas- Por Dentro da Arte - apresentam as obras de grandes pintores, de vários movimentos artísticos, com atividades lúdicas a serem realizadas pelas crianças. São verdadeiros jogos e podem ser usados com muito sucesso na intervenção psicopedagógica.
Jogos como o "tetracores", ou mosaicos em suas mais variadas formas, desenvolvem os aspectos acima mencionados e devem ser utilizados com as crianças portadoras de dificuldades de aprendizagem.
Destacamos algumas sugestões de leituras a este respeito, para o aprofundamento deste tema, tão relevante em nossos estudos:
Leitura Alessandrini,Cristina. "Oficina Criativa e Psicopedagogia". São Paulo, editora Casa do Psicólogo, 1996. Fagalli, Eloisa Quadros. "Múltiplas Faces do Aprender: transcendendo o pensamento moderno". São Paulo, Frôntis editorial, 2000. Paín, Sara. "Teoria e Técnica da Arte Terapia: a compreensão do sujeito". Porto Alegre, Artes Médicas, 1994. Sopelsa, Ortenila. "Dificuldades de aprendizagem: resposta em uma atelier pedagógico?". Porto Alegre, Edipucrs, 1998.

Nenhum comentário:

Postar um comentário